António Vitorino d'Almeida é, muito provavelmente, o maior artista português vivo. A sua obra de compositor, muito às pinguinhas, começa lentamente a furar o dique de indiferença e snobismo que se ergueu à sua volta.
Porque é um comunicador de invulgar génio, cuja inventividade e talento narrativo conseguem prender o ouvinte do primeiro ao último segundo, supõe-se que não possa ser muito mais do que isso, e as suas incursões são muitas vezes acolhidas ou com um sorriso zombeteiro e pedante ou então com hostil indiferença. São os trejeitos cá da paróquia perante o que lhe é superior.
O epíteto jocoso de "homem dos sete instrumentos" com que tantas vezes é paternalizado pode muito bem ser, no fim de contas, uma amarga ironia, mais uma partida pregada pela arte à vida, e que funciona como um boomerang contra aqueles que procurando denegrir, saem eles próprios cada vez mais desacreditados.
António Vitorino d'Almeida, o grande orador, cujo magnetismo incomparável comunicou a gerações de portugueses, é também António Vitorino d'Almeida, o grande músico e o grande intérprete, aquele cujos dotes de imaginação, técnica e puro talento, que com superabundância possui, estão polivalentemente distribuídos. Senão vejamos: conseguiu ser, em diferentes períodos da sua vida e sempre com sucesso, compositor, pianista, maestro, divulgador cultural, escritor, realizador, professor e, porque não, diplomata.
Evidentemente que a sua prestação tem sido desigual nestes vários domínios. Mas o que o país começa tardiamente a perceber é que estamos perante um compositor genial, de calibre mundial. Essa será, suponho, a distinção máxima que sempre almejou. Está certamente no pódio dos grandes compositor portugueses de sempre, onde ombreia apenas com João Domingos Bomtempo e Joly Braga Santos, que são na minha opinião, juntamente com o nosso maestro, os nossos grandes.
No panorama internacional o seu lugar é, por vários motivos, bem mais incerto. A contribuição de Portugal para o engrandecimento da arte musical é, exceptuando Amália Rodrigues e mais alguns poucos nomes como os que referi, miserável. O handicap é um pouco menos que excelente.
Mas que é possível o milagre de se ser simultaneamente português e exímio no exigente exercício do virtuosismo em música clássica, provam-no intérpretes portugueses tão mundialmente afamados como foram e são Viana da Mota, Sequeira Costa ou Maria João Pires. António Vitorino d'Almeida ainda não é o compositor mundialmente reconhecido que certamente gostaria e que merece ser. É até possível que nunca venha a sê-lo. A fortuna póstuma é uma esfinge caprichosa e insondável e Portugal não é Tebas ou sequer Corinto. Um Édipo salvador é-nos geograficamente menos acessível e, mesmo na era da globalização, pelo pelos por enquanto, temos ainda de aprender a resignar-mo-nos a viver com a peste da obscuridade relativa.
Resta-nos ainda um grande consolo. Esse consolo é António Vitorino d'Almeida. Proponho-vos que escutem, para começar, o seu concerto para piano e orquestra, op. 20 (clicar aqui para ver a segunda parte) e que explorem livremente os restantes excertos do site.
Não tenho a pretensão de conhecer a música de todos os principais compositores vivos da actualidade, ou sequer da maioria deles, já para não falar dos mortos. Tenho porém, apesar desta manifesta impossibilidade, uma forte suspeita. Quantos compositores haverá em todo o mundo que, agora como ontem, não se sintam ou sentiriam pelo menos envaidecidos de poderem afirmar terem composto uma obra como esta?
Porque é um comunicador de invulgar génio, cuja inventividade e talento narrativo conseguem prender o ouvinte do primeiro ao último segundo, supõe-se que não possa ser muito mais do que isso, e as suas incursões são muitas vezes acolhidas ou com um sorriso zombeteiro e pedante ou então com hostil indiferença. São os trejeitos cá da paróquia perante o que lhe é superior.
O epíteto jocoso de "homem dos sete instrumentos" com que tantas vezes é paternalizado pode muito bem ser, no fim de contas, uma amarga ironia, mais uma partida pregada pela arte à vida, e que funciona como um boomerang contra aqueles que procurando denegrir, saem eles próprios cada vez mais desacreditados.
António Vitorino d'Almeida, o grande orador, cujo magnetismo incomparável comunicou a gerações de portugueses, é também António Vitorino d'Almeida, o grande músico e o grande intérprete, aquele cujos dotes de imaginação, técnica e puro talento, que com superabundância possui, estão polivalentemente distribuídos. Senão vejamos: conseguiu ser, em diferentes períodos da sua vida e sempre com sucesso, compositor, pianista, maestro, divulgador cultural, escritor, realizador, professor e, porque não, diplomata.
Evidentemente que a sua prestação tem sido desigual nestes vários domínios. Mas o que o país começa tardiamente a perceber é que estamos perante um compositor genial, de calibre mundial. Essa será, suponho, a distinção máxima que sempre almejou. Está certamente no pódio dos grandes compositor portugueses de sempre, onde ombreia apenas com João Domingos Bomtempo e Joly Braga Santos, que são na minha opinião, juntamente com o nosso maestro, os nossos grandes.
No panorama internacional o seu lugar é, por vários motivos, bem mais incerto. A contribuição de Portugal para o engrandecimento da arte musical é, exceptuando Amália Rodrigues e mais alguns poucos nomes como os que referi, miserável. O handicap é um pouco menos que excelente.
Mas que é possível o milagre de se ser simultaneamente português e exímio no exigente exercício do virtuosismo em música clássica, provam-no intérpretes portugueses tão mundialmente afamados como foram e são Viana da Mota, Sequeira Costa ou Maria João Pires. António Vitorino d'Almeida ainda não é o compositor mundialmente reconhecido que certamente gostaria e que merece ser. É até possível que nunca venha a sê-lo. A fortuna póstuma é uma esfinge caprichosa e insondável e Portugal não é Tebas ou sequer Corinto. Um Édipo salvador é-nos geograficamente menos acessível e, mesmo na era da globalização, pelo pelos por enquanto, temos ainda de aprender a resignar-mo-nos a viver com a peste da obscuridade relativa.
Resta-nos ainda um grande consolo. Esse consolo é António Vitorino d'Almeida. Proponho-vos que escutem, para começar, o seu concerto para piano e orquestra, op. 20 (clicar aqui para ver a segunda parte) e que explorem livremente os restantes excertos do site.
Não tenho a pretensão de conhecer a música de todos os principais compositores vivos da actualidade, ou sequer da maioria deles, já para não falar dos mortos. Tenho porém, apesar desta manifesta impossibilidade, uma forte suspeita. Quantos compositores haverá em todo o mundo que, agora como ontem, não se sintam ou sentiriam pelo menos envaidecidos de poderem afirmar terem composto uma obra como esta?
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