Imagem: Orquestra da Ópera, Edgar Degas, 1870


«O valor da arte, como o da Via Mística, está nos seus efeitos. Se apenas dá prazer, por mais espiritual que o prazer seja, isso não tem grandes consequências, pelo menos maiores consequências que uma dúzia de ostras e uma garrafa de Montrachet. Se é uma consolação, ainda está bem; o Mundo está cheio de males inevitáveis e é bom que o homem disponha de algum retiro onde possa isolar-se de vez em quando; mas não para escapar-lhes, e antes para reunir novas forças a fim de os enfrentar. Porque a arte, se tem de ser considerada como um dos grandes valores da vida, deve ensinar aos homens humildade, tolerância, sabedoria e magnanimidade. O valor da arte não é a beleza, mas a acção justa.»


«Exame de Consciência», William Somerset Maugham.


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Marimbando juntos

    Um deputado do PS (parece que é o vice-presidente da bancada) afirmou ontem, num jantar lá com a trupe, que se está "marimbando" para o pagamento da dívida. Inflamado, prosseguiu com a espantosa afirmação de que os portugueses têm uma bomba atómica que vai deixar os banqueiros alemães e franceses a tremer do pernil: NÃO PAGAMOS!
    Confesso que já vim um cartaz semelhante para aí exibido há uns meses: a mesma letra gorda e rotunda, rutilante sobre um fundo negro, com a mesma verve e grandiloquência com que o infeliz deputado bramava este seu grito de revolta.
    Primeiras reacções: adivinham? Manuel Alegre. Felicíssimo. Elogiando o "jovem quadro" que não se ajoelha nem conforma, e que lançou "um grito de alma" que é preciso levar muito a sério, etc e tal, tudo nestes termos.
    Eu pus-me a pensar e, por uma vez, decidi que concordo com o nosso bardo, o nosso formidável e insubstituível guardião da chama de Abril (do Abril que só ele encarna em toda a sua glória e fracasso, que só ele conhece, que só ele ama como mais ninguém). Decidi marimbar-me. Para tudo. Para todos.
    Vamos-nos todos marimbar se faz favor. Por exemplo, querem que eu pague parquímetro? Vão-se marimbar, não pagamos! Querem que eu esteja na empresa às oito da manhã? Vão-se marimbar, não acordamos! Querem que se pague a luz, a água, o supermercado? Vão-se todos marimbar, o que a malta quer é a lei da selva! Não faço, não cumpro, estou-me a marimbar!
    Senhor deputado, juizinho: olhem que por este andar acabamos todos por nos marimbarmos uns aos outros aqui nesta praínha solarenga e aí quem se marimba é o senhor!
    Eu pessoalmente prefiro marimbar coisas mais bonitas.

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