A triste campanha de Manuel Alegre para a Presidência da República está, felizmente, quase a terminar. Apesar da satisfação que sinto pelo fim desta idiotia e do regozijo que a sua espectacular derrota já me vai dando, não posso deixar de debitar aqui uma palavrinha ou duas sobre o que penso acerca do "candidato".
O juízo não é lijonjeiro. Manuel Alegre é, para mim, a figura que mais põe a nu a fragilidade da concepção política que foi sendo criada em Portugal desde o 25 de Abril pelo establishment político português (esse mesmo que nos deu este Portugal miserável): políticos, jornalistas, "pensadores", "comentadores" e por tudo que é politicamente correcto, alinhado, desprezível e responsável no e pelo país fracassado, falido, trapaceiro e desonrado em que vivemos. Representa, a meu ver, tudo o que há de provinciano, de incompetente, de cego e de trágico na nossa esquerda.
Revolucionário sem revolução, Manuel Alegre, o herói, o grande poeta da liberade e da democracia, simboliza a esterilidade e falência moral de muitos dos políticos que fizeram o 25 de Abril - e que, a propósito, não se cansam de o reclamar, para que continuamente os adoremos e estejamos gratos. E para que nos lembremos de quanto tudo era infinitamente pior antes e infinitamente melhor agora. Reclamam assim, sem com isso perderem o sono, um dos falhanços mais tremendos que uma geração para com as vindouras: o de legar um futuro próspero, com perspectivas de crescimento, oportunidades de emprego e de um país orgulhoso e confiante.
Na verdade, que devo eu, que devemos todos nós ao formidável trovador? Qual a herança desses heróis de Abril à minha geração e à geração dos nossos filhos? Uma democracia, sim. Mas uma democracia partidocrática e corrupta, com um Estado falido e sem crédito, sem bom-nome, case study em Faculdades de economia um pouco por todo o mundo de como um país não deve ser gerido. A dívida, o desemprego, a falta de crescimento e a periferia do mundo ocidental - também tudo isto lhes devemos...
Por favor não me interpretem mal: não sou contra a democracia, digo apenas que há mais democracia para além desta. Não sou contra a liberdade, digo apenas que a liberdade serve para mais do que para proteger a incompetência, a corrupção, a impunidade e a máfia abjecta de influências e compadrios que se instalou em Portugal e que o roeu por dentro até o pôr de joelhos.
Na verdade, que devo eu, que devemos todos nós ao formidável trovador? Qual a herança desses heróis de Abril à minha geração e à geração dos nossos filhos? Uma democracia, sim. Mas uma democracia partidocrática e corrupta, com um Estado falido e sem crédito, sem bom-nome, case study em Faculdades de economia um pouco por todo o mundo de como um país não deve ser gerido. A dívida, o desemprego, a falta de crescimento e a periferia do mundo ocidental - também tudo isto lhes devemos...
Por favor não me interpretem mal: não sou contra a democracia, digo apenas que há mais democracia para além desta. Não sou contra a liberdade, digo apenas que a liberdade serve para mais do que para proteger a incompetência, a corrupção, a impunidade e a máfia abjecta de influências e compadrios que se instalou em Portugal e que o roeu por dentro até o pôr de joelhos.
Não me revejo nestes heróis de Abril que olham para a Presidência como quem olha para um tributo que lhes é devido, e que pensam que todo o povo que é povo é de esquerda e lhes deve prestar o tributo de uma vassalagem embevecida e obtusa.
Santo Revolucionário deste Portugal que a democracia e o socialismo vagabundizaram, Manuel Alegre é um homem que, ignorando persistentemente os problemas que inquietam o país (desemprego jovem, perspectivas de crescimento, etc...) descobriu, para seu consolo, uma causa à qual se pode entregar acriticamente, uma causa que ele julga ser a do "fim da História", e da qual, como todos os fanáticos, se julga o arauto priviligiado. Essa causa é, claro, o Estado Social.
Pouco importa que não seja sustentável e que os seus resultados sejam nefastos: sempre é uma bela utopia, sempre fica bem defendê-la! Aliás, a ideia é tão bela que está para lá da discussão política e da gestão corrente e mesquinha dos verdadeiros problemas de Portugal. A defesa acrítica do Estado Social nem é bem uma causa... a coisa é mais como uma revelação à qual se deve ser devoto: tão intrinsecamente justa e inatacável que, pelo simples facto de a defender, Manuel Alegre é, também ele, hoje tal como ontem, o justo, o bom, o iluminado. Não é política, é moral. E Alegre defende esta sua posição de moral com todo o simplismo revolucionário da sua retórica populista, porque Alegre está, também ele acima da discussão política e é, também ele, uma questão de moral!
No fundo, esta ideia que Alegre tem de si mesmo é que é anti-democrática: as suas ideias parecem situar-se num reino acima da discussão - são um híbrido entre uma crença marxista de verdade progressista e de fé religiosa inquestionada. (De qualquer maneira, para se defender o Estado Social, à maneira de Alegre, não é necessário queimar pestanas para dominar as ciências económicas ou políticas: basta afirmar a sua absoluta crença na bondade e justiça intrínsecas do Estado Social, que todas as coisas se resolvem por si. Que mais fazer senão agarrar-se obstinadamente, criminosamente, atavicamente a essa fé num Estado Social generoso, socialista, progressista, paternal?)...
Santo Revolucionário deste Portugal que a democracia e o socialismo vagabundizaram, Manuel Alegre é um homem que, ignorando persistentemente os problemas que inquietam o país (desemprego jovem, perspectivas de crescimento, etc...) descobriu, para seu consolo, uma causa à qual se pode entregar acriticamente, uma causa que ele julga ser a do "fim da História", e da qual, como todos os fanáticos, se julga o arauto priviligiado. Essa causa é, claro, o Estado Social.
Pouco importa que não seja sustentável e que os seus resultados sejam nefastos: sempre é uma bela utopia, sempre fica bem defendê-la! Aliás, a ideia é tão bela que está para lá da discussão política e da gestão corrente e mesquinha dos verdadeiros problemas de Portugal. A defesa acrítica do Estado Social nem é bem uma causa... a coisa é mais como uma revelação à qual se deve ser devoto: tão intrinsecamente justa e inatacável que, pelo simples facto de a defender, Manuel Alegre é, também ele, hoje tal como ontem, o justo, o bom, o iluminado. Não é política, é moral. E Alegre defende esta sua posição de moral com todo o simplismo revolucionário da sua retórica populista, porque Alegre está, também ele acima da discussão política e é, também ele, uma questão de moral!
No fundo, esta ideia que Alegre tem de si mesmo é que é anti-democrática: as suas ideias parecem situar-se num reino acima da discussão - são um híbrido entre uma crença marxista de verdade progressista e de fé religiosa inquestionada. (De qualquer maneira, para se defender o Estado Social, à maneira de Alegre, não é necessário queimar pestanas para dominar as ciências económicas ou políticas: basta afirmar a sua absoluta crença na bondade e justiça intrínsecas do Estado Social, que todas as coisas se resolvem por si. Que mais fazer senão agarrar-se obstinadamente, criminosamente, atavicamente a essa fé num Estado Social generoso, socialista, progressista, paternal?)...
Porque a verdade é esta: com toda a sua arrogância e ignorância, com a sua defesa irracional e ortodoxa do que considera serem "conquistas socias progressistas irreversíveis" (aqui está um eco da lente "científica" com que o marxismo vê a política) e não admitindo qualquer reforma, ainda que indispensável e racional, a nenhuma destas "conquistas", Manuel Alegre pouco mais é do que um homem com muita fé e poucas ideias. Um revolucionário tornado conservador. Um anacronismo e uma caricatura. E é, por tudo isto, o mais perigoso dos inimigos da democracia: aquele que a torna insustentável e ruínosa; aquele que a mina por dentro, conduzindo-a à derrocada, ao mesmo tempo que arroga ser o seu mais genuíno e legítimo campeão.
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